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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Terá sido pressentimento?

Ele colecionava panfletos. Todo tipo que lhe caía nas mãos: de planos de saúde, de cursinhos preparatórios, de lojas, de empresas de TV por assinatura... Em época de eleições, seu acervo engordava ainda mais, com todos aqueles ironicamente chamados de "santinhos".
Não sabia ao certo o dia em que começara a juntar. Ele apenas não jogava na rua os panfletos recebidos, guardava-os na mochila e acabava por esquecê-los ali. Certo dia, ao dar uma geral em suas coisas, encontrou dezenas de panfletos dobrados em um dos bolsos. Achou engraçado e, desde então, começou a colecioná-los.
A mãe reclamava daquele monte de papel inútil, os amigos brincavam com a mania incomum; a segunda caixa estava quase cheia. Nem ele mesmo sabia o que queria com tudo aquilo, apenas achava legal e tinha pegado hábito. Poderia cobrir uma parede, pensava, ou fazer frases com as letras e palavras recortadas em uma capa de caderno estilizada.
Encheu a terceira caixa. O costume começava a desaparecer. Manias são efêmeras. Já não torcia tanto para que aparecesse uma mão com um panfleto na janela do ônibus, já desviava quando avistava um panfleteiro nos trajetos a pé, chegou até a colocar alguns no lixo assim que os recebeu. Não entendia como aguentara juntar tantos. Decidiu-se enfim: naquele dia, quando chegasse a casa, iria dar um jeito naquelas caixas. Provavelmente reciclagem.
Ônibus parado, congestionamento de sempre. De repente, um ruído de multidão se aproximando. Buzinas. Vozes. Pessoas andando no meio dos carros, pedindo e fazendo barulho, agitando bandeiras e cartazes. Manifestação. Ele resolveu descer do ônibus ali mesmo. Não estava tão distante de sua casa e queria participar pela primeira vez de algo daquele tipo.
A maioria das pessoas andava em grupos. Ele seguia sozinho, maravilhado. Entoava o hino e os cantos puxados pelos manifestantes. Sorria. Nem se lembrava da preocupação com o destino dos panfletos guardados.
Até que alguém que vinha andando rapidamente atrás esbarrou nele. Ela olhou para trás e entregou-lhe um panfleto de conteúdo ativista, com as cores da nação, a mesma que coloria as bochechas dela naquela hora. Sorrindo, falou "vamo mudar esse país!" e continuou andando entre a multidão, entregando panfletos iguais àquele a quem via pela frente.
Naquela noite, as caixas não saíram do quarto dele, para desgosto da mãe e diversão dos amigos. Semanas depois, ele trazia para conhecer as cinco caixas com a coleção de panfletos a menina manifestante que inconscientemente o tinha feito mudar de ideia sobre se desfazer deles. Anos depois, no lugar do arroz, os recém-casados receberam uma chuva de papel picado na saída da igreja.


P.S.: fala, negada! Milagre eu por aqui não tendo pelo menos meio ano do último post né? hahaha Não sei o que tá acontecendo esses dias, tô tão inspirada! Espero que isso continue até amanhã, na tão famigerada redação do ENEM... Sim, eu vou fazer essa merda de novo. Queria tanto repetir meu resultado do ano passado e cravar logo um plano B bem pai d'égua! Vai dar certo, se Deus quiser. A todos que também terão a infelicidade de fazer essas provas, meu super boa sorte pra vocês, relaxem porque o que tiver de ser será (: Ah, sobre esse texto, fiz hoje num momento de tédio profundo. Esse negócio dos panfletos é meio que real, tinha uma ruma deles na minha bolsa, daí eu resolvi fazer uma historinha bonitinha sem noçãozinha hehehe Espero que gostem. E ignorem aquela merda de título, sou péssima com isso! Até a próxima, suricates!

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